Mais um domingo de chuva e frio. Uma certo tédio, uma certa tristeza...
Um certo arrependimento. Tô passada.
Às vezes a gente troca os pés pelas mãos, erra a receita e o bolo sola, o pudim vira calda, a torta desanda, o CD arranha e a festa não rola.
De surpresa em surpresa, desculpem, mas (ainda) estou perplexa.
Do texto excelente, como sempre, da Martha Medeiros, publicado na Revista O Globo - edição de domingo, 12 de julho -, fiz alguns recortes e tomo a liberdade de comentar, às vezes até discordar de algumas afirmações. Aí vai.
Escandalosa sinceridade
É do admirável dramaturgo e escritor Domingos Oliveira a frase que me inspirou esta crônica. Diz ele: “A única coisa que ainda escandaliza hoje em dia é a sinceridade”. (MM)
O que ainda me deixa escandalizada mesmo é a mentira, gratuita e inconsequente, principalmente, quando vem de um(a) amigo(a).
A sinceridade destroi castelos de areia. É a realidade sem anestesia. Ela não estimula reticências, não teatraliza as relações humanas, não debocha da credulidade alheia, não falsifica impressões. A sinceridade é de vanguarda. É tão soberana que emudece a todos. É tão inesperada que impede retaliações. A sinceridade é o ponto final de qualquer discussão.
Quer deixar alguém perplexo? Fale a verdade. (MM)
Fico mais à vontade com a simplicidade da verdade.
Não sei lidar com gente que escamoteia, que não olha direto no olho.
Gente que não diz tudo, que tenta manipular situações e que, pra se afirmar, precisa de mentiras ou verdades incompletas.
Como diz o ditado ‘mentira tem pernas curtas’.
Mentira tem legenda, basta ser bom observador.
Quer me deixar perplexa? Seja mentiroso.
Mentira aparece... no olhar, no ombro curvado, no abraço mal dado.
As pessoas sábias são admiradas quando contam o que sabem, mas impressionam mesmo é quando serenamente confessam: não sei. O “não sei” é comovente. Os melhores filmes, as melhores peças, os melhores livros tratam sobre a nossa ignorância, não sobre a nossa genialidade.
Eu errei. Eu traí. Eu fiz asneira. Eu me iludi. Eu sou assim. Extra, extra! À solta alguém que se assume, que perdoa seus próprios tropeços, que não recorre ao Photoshop na hora de expor o caráter. (MM)
Não precisa ser sábio!... Basta gostar de si mesmo e, mais, gostar, considerar, respeitar, valorizar o(a) amigo(a), ou qualquer outro semelhante.
Escândalo é alguém te olhar nos olhos e admitir com tranquilidade: nunca li Guimarães Rosa, nunca soube entender. Eu já disse “te amo” sem ter certeza. Não tenho confiança nas minhas decisões. Não uso filtro solar. Dirijo depois de beber alguns cálices de vinho. Eu fiz um aborto. Estou sofrendo por amor. Fui deixada. Já pensei em suicídio. Já pensei em morar no meio do mato. Me arrependo de ter filhos. Me arrependo de não ter tido filhos. Casei por dinheiro. Casei por medo da solidão. Não casei porque não me quiseram. Não perdoo meu pai. Fui injusta com minha mãe. Perdi oportunidades. Vacilei com um amigo. Estou sem paciência com os outros. Quero começar a viver enquanto há tempo. Não tenho talento. Tive sorte. Nunca passei a perna em ninguém. Nunca menti para me safar. Menti demais para não magoar. Nunca fui agradável. Nunca inventei um personagem. Inventei vários personagens. Não sei direito quem sou. Não sei.
Extra, extra! (MM)
Pra mim, não é escândalo.
É equilíbrio entre caráter e personalidade.
Um tem a ver com maturidade moral de cada um, com os comportamentos e as escolhas que fazemos. A gente vai construindo pela vida afora, selecionando e incorporando influências que valham a pena. É alicerce de moral e ética.
O outro é essência, vem do berço e da aprendizagem.
Isso é só um desabafo. Afinal, não sou nem quero ser a palmatória do mundo.
Não sou mais ou melhor do que ninguém.
Mas, tenho certeza, a verdade me faz sentir mais confortável.
Um pouco de poesia, com uma pitadinha de psicanálise, ajudam a gente a viver melhor e a ser mais feliz.
... Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas. E você não está neste mundo para viver as minhas. Você é você, e eu sou eu, e se, por acaso, nós nos encontrarmos, será lindo. Se não, nada se pode fazer.
(Frederich Perls)
Boa noite!
Há 3 horas